quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Alberto Caeiro - Compreensão Escrita

Leia com atenção o poema que se segue e responda correctamente ao questionário.


XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, in Poesia, Lisboa, Assino & Alvim, 2001


Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário:

1. Explicite as relações de sentido estabelecidas pela sintaxe e uso das conjunções entre os versos da primeira estrofe.
2. Interprete a ironia expressa nos versos 5, 6 e 7.
3. Caracterize o «Tejo» e o «rio da minha aldeia», evidenciando as diferenças entre eles.
4. Refira a importância que toma o verso livre no poema.
5. Comente a importância da última estrofe na construção do sentido geral do texto.


Nota: Para confrontares as tuas respostas acede à proposta de correcção.


Alberto Caeiro - Compreensão Escrita

Leia com atenção o poema que se segue e responda correctamente ao questionário.

VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...


Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, in Poesia, Lisboa, Assino & Alvim, 2001


Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário:

1. "Porque eu sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura..."
1.1. Partindo dos versos transcritos, caracterize o sujeito poético.
1.2. Mostre como a concepção do Universo é determinada pela imagem que o sujeito poético tem de si próprio.
2. Explicite a oposição entre a "aldeia" e a "cidade" expressa no texto.
3. Comente a importância do acto de "ver" para a apreensão da realidade.
    Ilustre a sua resposta com expressões do poema.
4. Explique a expressividade da metáfora presente no verso 7: "Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave".
5. Identifique e aprecie o valor do deíctico presente na segunda estrofe.
6. Aprecie o valor expressivo da construção dos dois últimos versos do poema.

Nota: Para confrontares as tuas respostas acede à proposta de correcção.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Alberto Caeiro - Compreensão

Após o estudo de Alberto Caeiro, testa os teus conhecimentos, acedendo e resolvendo esta ficha de aplicação de conhecimentos.



   Nota: Para confrontares as tuas respostas acede às propostas de correcção aqui.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Deícticos de tempo

Podem considerar-se deícticos de tempo expressões como «Às seis horas da tarde» ou «durante a manhã»?

1. Os deícticos de tempo assinalam marcos de referência temporal que têm o sujeito que fala como eixo central de referência.
1.1. Convém lembrar que os deícticos opõem-se a lexemas de conteúdo semântico-referencial estável porque de cada vez que são usados referenciam objectos e entidades renovados, em função do contexto situacional em que são activados. Não sabemos o que referenciam as palavras eu – tu – aqui – agora – hoje – ontem – anteontem – assim – isto fora da situação de enunciação única e irrepetível em que são activadas. De notar que o mesmo se passa com a referenciação temporal visada nos morfemas da flexão verbal: estudei – estudo – estudarei referenciam um tempo anterior, simultâneo ou posterior relativamente ao momento do eu que fala. Estas questões não se colocam quando tratamos do conteúdo semântico-referencial de unidades lingu[ü]ísticas como sábado, época, pessoa, desajeitadamente (palavras de conteúdo referencial estável e permanente).

2. Muitos deícticos temporais são adverbiais, mas nem todos os adverbiais temporais são deícticos.
2.1. São considerados adverbiais de tempo quer os advérbios de tempo (ontem, cedo), quer os grupos preposicionais (em cinco minutos; de tarde), quer os grupos nominais (esta manhã; certo dia), quer ainda orações temporais («antes de saírem») (ver Mateus et al., 2003 – Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho: 166-167). Os adverbiais podem incorporar, ou não, deícticos, e em função disso terão, ou não, uma função referencial deíctica:

«Na madrugada do 25 de Abril, Salgueiro Maia saiu do quartel de Santarém.» [adverbial de referenciação não deíctica/objectiva]

«Tive um pesadelo nesta madrugada.» [adverbial de referência deíctica/subjectiva]

3. «Às seis horas da tarde» é um adverbial expresso por um grupo preposicional; não é um deíctico porque a sua referência é cronológica e, portanto, objectiva, independente das circunstâncias temporais de quem profere essa determinação de tempo;
– «durante a manhã» é um adverbial expresso por um grupo preposicional que pode ter valor referencial deíctico ou não, dependendo do modo de enunciação que estiver em causa:

«Na madrugada do 25 de Abril, Salgueiro Maia saiu do quartel de Santarém. Durante a manhã, Lisboa vai-se enchendo de sons e cores.» – referência não deíctica/objectiva

«Não me apetece almoçar: estou enjoada e não fiz nada de jeito durante a manhã.» (vale como «durante esta manhã»)

Alberto Caeiro - Biografia

«Ignorante da vida e quase ignorante das letras, quase sem convívio nem cultura...»
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa a (...) de Abril de 1889, e nessa cidade faleceu, tuberculoso, em (...) de (...) 1915. A sua vida, porém, decorreu quase toda numa quinta do Ribatejo (?); só os últimos meses dele foram de novo passados na sua cidade natal. Ali foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro intitulado O Guardador de Rebanhos, os do livro, ou o quer que fosse, incompleto, chamado O Pastor Amoroso, e alguns, os primeiros, que eu mesmo, herdando-os para publicar, com todos os outros, reuni sob a designação, que Álvaro de Campos me sugeriu bem, de Poemas Inconjuntos. Os últimos poemas, a partir daquele numerado (.. ), são porém produto do último período da vida do autor, de novo passado em Lisboa. Julgo de meu dever estabelecer esta breve distinção, pois alguns desses últimos poemas revelam, pela perturbação da doença, uma novidade um pouco estranha ao carácter geral da obra, assim em natureza como em direcção.
A vida de Caeiro não pode narrar-se pois que não há nela de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida. Em tudo mais não houve incidentes, nem há história. O mesmo breve episódio, improfícuo e absurdo, que deu origem aos poemas de O Pastor Amoroso , não foi um incidente, senão, por assim dizer, um esquecimento.
A obra de Caeiro representa a reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos, que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer. A obra, porém, e o seu paganismo, não foram nem pensados nem até sentidos: foram vindos com o que quer que seja que é em nós mais profundo que o sentimento ou a razão. Dizer mais fora explicar, o que de nada serve; afirmar menos fora mentir. Toda obra fala por si, com a voz que lhe é própria, e naquela linguagem em que se forma na mente, quem não entende não pode entender, e não há pois que explicar-lhe. É como fazer compreender a alguém um idioma que ele não fala.
Ignorante da vida e quase ignorante das letras, sem convívio nem cultura, fez Caeiro a sua obra um progresso imperceptível e profundo, como aquele que dirige, através das consciências inconscientes dos homens, o desenvolvimento lógico das civilizações. Foi um progresso de sensações, ou, antes, de maneiras de as ter, e uma evolução íntima de pensamentos derivados de tais sensações progressivas. Por uma intuição sobre-humana, como aquelas que fundam religiões, porém a que não assenta o título de religiosa, por isso que repugna toda a religião e toda a metafísica, este homem descreveu [??] o mundo sem pensar nele, e criou um conceito do universo que não contém uma interpretação. [?]
Pensei, quando primeiro me foi entregada a empresa de publicar estes livros, em fazer um largo estudo crítico e excursivo sobre a obra de Caeiro e a sua natureza e natural destino. Porém não pude fazer estudo algum que me satisfizesse.
Pesa-me que a razão me compila a dizer estas nenhumas palavras (este pouco de palavras) ante a obra do meu Mestre, de não poder escrever, de útil ou de necessário, mais que disse, com o coração, na Ode (...) do Livro I meu, com a qual choro o homem que foi para mim, como virá a ser para mais que muitos, o revelador da Realidade, ou, como ele mesmo disse, «o Argonauta das sensações verdadeiras» — o grande Libertador, que nos restituiu, cantando, ao nada luminoso que somos, que nos arrancou à morte e à vida, deixando-nos entre as simples coisas, que nada conhecem, em seu decurso, de viver nem de morrer; que nos livrou da esperança e da desesperança, para que nos não consolemos sem razão nem nos entristeçamos sem causa; convivas com ele, sem pensar, da necessidade objectiva do Universo.

Dou a obra, cuja edição me foi cometida, ao acaso fatal do mundo. Dou-a e digo:

Alegrai-vos, todos vós que chorais na maior das doenças da História!
O grande Pã renasceu!

Esta obra inteira é dedicada
por desejo do próprio autor
à memória de
Cesário Verde.

s.d.

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996.
 - 329.

Prefácio a Caeiro

Pessoa Revisitado

Ao clicares aqui vais encontrar vários textos de Eduardo Lourenço sobre Fernando Pessoa. Explora alguns links relacionados com a temática da heteronímia em Fernando Pessoa.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Texto Argumentativo

Quando usamos a argumentação?
No nosso quotidiano usamos constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses actos de comunicação tem um carácter informativo, não é menos verdade que um bom número deles tem um carácter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso, temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito frequentemente.
Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um acto de inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.

O que é argumentar?
Argumentar é, pois, expressar uma convicção, um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos objectivos.

Argumentar é o mesmo que persuadir?
Argumentar é persuadir racionalmente, mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside no facto de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.

O que é um texto argumentativo?
O texto argumentativo é, então, o que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como? Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados, sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos. E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados organizados - as premissas - que sustentam o ponto de vista e conduzem à conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.

Quando temos que construir um texto argumentativo?
Na vida escolar, na vida profissional, e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar textos argumentativos.
A dissertação, o comentário, a exposição escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma critica de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes, um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma construção argumentativa muito cuidada.

Como se constrói um texto argumentativo?

I - Estrutura do texto / Progressão temática
1. Introdução - Parágrafo inicial no qual se apresenta a proposição (tese, opinião, declaração). Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou provas.
2. Desenvolvimento - Análise/explicitação da proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da proposição: factos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
3. Conclusão - Parágrafo final, no qual se conclui com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.

II - Escolha e ordenação dos argumentos
Para uma correcta construção argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes, apresentados de forma lógica e articulada. Assim deve-se:
        . encontrar os argumentos adequados;
        . recorrer, sempre que possível e desejável, à exemplificação, à citação, à analogia, às relações causa-efeito;
        . organizar os argumentos por ordem crescente de importância, do menos para o mais importante.

III - Adequação do texto ao objectivo e ao destinatário
A construção de um texto argumentativo deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina (para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
        . usar um registo adequado à situação e ao destinatário;
        . utilizar referências de conteúdo que o destinatário possui, de forma a que este o possa interpretar correctamente.

IV - Articulação e progressão do discurso
O texto deve apresentar-se como um todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo gradualmente. Estas características são conseguidas através da correcta utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:
        . correcta estruturação e ordenação das frases;
        . uso correcto dos conectores do discurso;
        . respeito pelas regras de concordância;
       . uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do nome;
       . utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinónimos, antónimos, hiperónimos e hipónimos.
A progressão e articulação do texto é conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.