terça-feira, 3 de novembro de 2009

Modernismo

1. Movimento Orpheu (Primeiro Modernismo)

Fernando Pessoa, educado na África do Sul sob influência da cultura inglesa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, que beberam em Paris as últimas novidades literárias e plásticas do Futurismo e de outras correntes modernas, por alturas da Primeira Grande Guerra (1914 - 1918), lançaram em Portugal o movimento modernista. António Botto e Luís de Montalvor são também nomes de vulto do primeiro Modernismo.
O grande motor de arranque do movimento foi a revista Orpheu, de que saíram dois números apenas (1915). Outras revistas se lhe seguiram, divulgadoras da mesma mensagem artística: Centauro (1 número), Portugal Futurista (1 número), Contemporânea (13 números - 1922-33) e Athena (5 números - 1924-25).
Os homens deste movimento modernista escandalizaram e assustaram os intelectuais e a sociedade "bem pensante" da época, tal a sua inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evolucionavam do sentir sebastianista mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia.
O que se pretendia era escandalizar. Os dois números do Orpheu surgiram mesmo "para irritar o burguês, para escandalizar, e alcançaram o fim proposto, tornaram-se alvo das troças dos jornais". Era assim que se procedia à maior reviravolta da literatura portuguesa.
Pessoa e os outros sentiam-se entediados pelos seus contemporâneos. O repúdio do espírito da Renascença Portuguesa, em que pontificava Teixeira de Pascoaes, foi o primeiro efeito desse tédio.
"Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas".
As tendências do primeiro Orpheu evolucionaram do Decadentismo-Simbolismo até ao Modernismo sensacionista de Álvaro de Campos.
O Futurismo e o Sensacionismo devem-se, em Portugal, aos homens mais influentes do movimento Orpheu: Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro.
O Futurismo, lançado na Europa sobretudo pelo poeta italiano Marinetti, é representado em Portugal pelos seguintes textos e autores: "Ode Triunfal" (1914) e "Ultimatum" (1917) de Álvaro de Campos; "Manucure" e "Apoteose" (1915) de Sá-Carneiro; "A Cena do Ódio" (1915), "Manifesto Anti-Dantas" (1916) e "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc. XX" (1917) de Almada Negreiros.
Ao mesmo tempo que se mostravam demolidores dos sistemas ideológicos tradicionais, estes homens impunham também um conceito novo de arte, substituindo o conceito de Belo (imitação harmoniosa da Natureza), herdado da velha "estética aristotélica". Queriam uma estética que espelhasse o mundo progressivo do futuro, uma estética dinâmica e agressiva.
Daí a defesa de uma autêntica liberdade da escrita, com recurso ao verso livre e aos atropelos morfossintácticos, às metáforas e imagens arrojadas, um estilo que destrua o EU, isto é, toda a psicologia, na literatura, voltando-se para o mundo da técnica, o estilo da força física, do mecanismo e da própria violência. "Queremos na literatura a vida do motor".
O Primeiro Modernismo apresenta-se primeiramente como um movimento artístico post-simbolista. Fernando Pessoa e Luís de Montalvor representam ainda, no princípio, um Simbolismo intelectualizado que contrasta com o Futurismo de Almada Negreiros, cultor de um certo primitivismo ingénuo, revelado, por exemplo, no seu romance Nome de Guerra.

 

2. Movimento Presença (Segundo Modernismo)

A revista Presença, nascida em Coimbra em 1927, lança o movimento do segundo Modernismo. Muitas vezes se insistiu no aspecto contestador do movimento Presença em relação ao movimento Orpheu, mas a verdade é que todos os críticos aceitam hoje que a Presença é que mais contribuiu para a divulgação e para o enaltecimento do primeiro Modernismo, embora sendo também certo que os autores da Presença revelavam esbatimento quanto aos exageros chocantes dos homens de Orpheu.
A revista Presença foi precedida em Coimbra pelas revistas Bizâncio (1923), Triptíco (1924), em que colaborava já aquele que viria a ser o principal fundador e redactor da Presença, o grande poeta José Régio. Colaboraram com este Gaspar Simões, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, etc.
A Presença, sobretudo pela voz de José Régio, insistia na necessidade de uma "literatura viva", baseada na imaginação psicológica, e denotando influências de Dostoievsky, da filosofia bergsoniana e da psicanálise de Freud. Daí o falar-se muito do Psicologismo do segundo Modernismo. O que se exigia do escritor era "uma sinceridade vinda da região mais profunda, inocente e virgem do subconsciente". E nisto eram continuadores do primeiro Modernismo.
De notar que os homens da Presença se distanciaram sempre do espírito das literaturas de explícita intervenção político-social, como o Neo-Realismo.
Algumas Características do Modernismo:
  • esquecimento do passado e o propósito de construir e criar o futuro;
  • o desprezo por tudo o que é clássico, tradicional e estático (museus, academias, servilismo aos mestres, etc.);
  • repúdio de sentimentalismo pelo ingresso frenético na vida activa através da exaltação do homem de acção e simultaneamente através do repúdio do homem contemplativo;
  • culto da liberdade, da veracidade, da energia, da força física, da máquina, da violência, do perigo;
  • culto da originalidade através de uma busca incessante de expressividade máxima;
  • novo conceito de arte: deve ser a força, o dinamismo, o domínio dos outros;
  • o universalismo.

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