Todas as horas
Que nós perdemos.
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos!,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza ...
A beira-rio,
A beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O Tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvirn Ed., 2000
1. incautos:. sem cautelas, sem preocupações.
2. quasi: forma arcaizante de quase.
3. deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre: referência ao deus grego Cronos, cujo nome significa em português Tempo; este deus devorava os filhos ao nascer.
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas ao questionário.
1. Caracterize a relação entre "nós" e o "tempo ".
2. Explicite um dos efeitos de sentido produzidos pelas formas verbais "saibamos" (vv. 10 e 28), "Colhamos" (v. 37) e "Molhemos" (v. 38).
3. Interprete o valor simbólico das referências às "flores" (vv. 6 e 37), aos "Girassóis" (v. 43), aos "rios" (v. 40).
4. Refira a importância, no texto, do vocabulário relativo à ideia de calma.
5. Sintetize a filosofia de vida expressa no poema.
Nota: Caso necessite, confronte as suas respostas com a seguinte proposta.
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