quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Alberto Caeiro - Compreensão Escrita

Leia com atenção o poema que se segue e responda correctamente ao questionário.


XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, in Poesia, Lisboa, Assino & Alvim, 2001


Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário:

1. Explicite as relações de sentido estabelecidas pela sintaxe e uso das conjunções entre os versos da primeira estrofe.
2. Interprete a ironia expressa nos versos 5, 6 e 7.
3. Caracterize o «Tejo» e o «rio da minha aldeia», evidenciando as diferenças entre eles.
4. Refira a importância que toma o verso livre no poema.
5. Comente a importância da última estrofe na construção do sentido geral do texto.


Nota: Para confrontares as tuas respostas acede à proposta de correcção.


Alberto Caeiro - Compreensão Escrita

Leia com atenção o poema que se segue e responda correctamente ao questionário.

VII

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...


Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, in Poesia, Lisboa, Assino & Alvim, 2001


Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário:

1. "Porque eu sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura..."
1.1. Partindo dos versos transcritos, caracterize o sujeito poético.
1.2. Mostre como a concepção do Universo é determinada pela imagem que o sujeito poético tem de si próprio.
2. Explicite a oposição entre a "aldeia" e a "cidade" expressa no texto.
3. Comente a importância do acto de "ver" para a apreensão da realidade.
    Ilustre a sua resposta com expressões do poema.
4. Explique a expressividade da metáfora presente no verso 7: "Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave".
5. Identifique e aprecie o valor do deíctico presente na segunda estrofe.
6. Aprecie o valor expressivo da construção dos dois últimos versos do poema.

Nota: Para confrontares as tuas respostas acede à proposta de correcção.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Alberto Caeiro - Compreensão

Após o estudo de Alberto Caeiro, testa os teus conhecimentos, acedendo e resolvendo esta ficha de aplicação de conhecimentos.



   Nota: Para confrontares as tuas respostas acede às propostas de correcção aqui.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Deícticos de tempo

Podem considerar-se deícticos de tempo expressões como «Às seis horas da tarde» ou «durante a manhã»?

1. Os deícticos de tempo assinalam marcos de referência temporal que têm o sujeito que fala como eixo central de referência.
1.1. Convém lembrar que os deícticos opõem-se a lexemas de conteúdo semântico-referencial estável porque de cada vez que são usados referenciam objectos e entidades renovados, em função do contexto situacional em que são activados. Não sabemos o que referenciam as palavras eu – tu – aqui – agora – hoje – ontem – anteontem – assim – isto fora da situação de enunciação única e irrepetível em que são activadas. De notar que o mesmo se passa com a referenciação temporal visada nos morfemas da flexão verbal: estudei – estudo – estudarei referenciam um tempo anterior, simultâneo ou posterior relativamente ao momento do eu que fala. Estas questões não se colocam quando tratamos do conteúdo semântico-referencial de unidades lingu[ü]ísticas como sábado, época, pessoa, desajeitadamente (palavras de conteúdo referencial estável e permanente).

2. Muitos deícticos temporais são adverbiais, mas nem todos os adverbiais temporais são deícticos.
2.1. São considerados adverbiais de tempo quer os advérbios de tempo (ontem, cedo), quer os grupos preposicionais (em cinco minutos; de tarde), quer os grupos nominais (esta manhã; certo dia), quer ainda orações temporais («antes de saírem») (ver Mateus et al., 2003 – Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho: 166-167). Os adverbiais podem incorporar, ou não, deícticos, e em função disso terão, ou não, uma função referencial deíctica:

«Na madrugada do 25 de Abril, Salgueiro Maia saiu do quartel de Santarém.» [adverbial de referenciação não deíctica/objectiva]

«Tive um pesadelo nesta madrugada.» [adverbial de referência deíctica/subjectiva]

3. «Às seis horas da tarde» é um adverbial expresso por um grupo preposicional; não é um deíctico porque a sua referência é cronológica e, portanto, objectiva, independente das circunstâncias temporais de quem profere essa determinação de tempo;
– «durante a manhã» é um adverbial expresso por um grupo preposicional que pode ter valor referencial deíctico ou não, dependendo do modo de enunciação que estiver em causa:

«Na madrugada do 25 de Abril, Salgueiro Maia saiu do quartel de Santarém. Durante a manhã, Lisboa vai-se enchendo de sons e cores.» – referência não deíctica/objectiva

«Não me apetece almoçar: estou enjoada e não fiz nada de jeito durante a manhã.» (vale como «durante esta manhã»)

Alberto Caeiro - Biografia

«Ignorante da vida e quase ignorante das letras, quase sem convívio nem cultura...»
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa a (...) de Abril de 1889, e nessa cidade faleceu, tuberculoso, em (...) de (...) 1915. A sua vida, porém, decorreu quase toda numa quinta do Ribatejo (?); só os últimos meses dele foram de novo passados na sua cidade natal. Ali foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro intitulado O Guardador de Rebanhos, os do livro, ou o quer que fosse, incompleto, chamado O Pastor Amoroso, e alguns, os primeiros, que eu mesmo, herdando-os para publicar, com todos os outros, reuni sob a designação, que Álvaro de Campos me sugeriu bem, de Poemas Inconjuntos. Os últimos poemas, a partir daquele numerado (.. ), são porém produto do último período da vida do autor, de novo passado em Lisboa. Julgo de meu dever estabelecer esta breve distinção, pois alguns desses últimos poemas revelam, pela perturbação da doença, uma novidade um pouco estranha ao carácter geral da obra, assim em natureza como em direcção.
A vida de Caeiro não pode narrar-se pois que não há nela de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida. Em tudo mais não houve incidentes, nem há história. O mesmo breve episódio, improfícuo e absurdo, que deu origem aos poemas de O Pastor Amoroso , não foi um incidente, senão, por assim dizer, um esquecimento.
A obra de Caeiro representa a reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos, que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer. A obra, porém, e o seu paganismo, não foram nem pensados nem até sentidos: foram vindos com o que quer que seja que é em nós mais profundo que o sentimento ou a razão. Dizer mais fora explicar, o que de nada serve; afirmar menos fora mentir. Toda obra fala por si, com a voz que lhe é própria, e naquela linguagem em que se forma na mente, quem não entende não pode entender, e não há pois que explicar-lhe. É como fazer compreender a alguém um idioma que ele não fala.
Ignorante da vida e quase ignorante das letras, sem convívio nem cultura, fez Caeiro a sua obra um progresso imperceptível e profundo, como aquele que dirige, através das consciências inconscientes dos homens, o desenvolvimento lógico das civilizações. Foi um progresso de sensações, ou, antes, de maneiras de as ter, e uma evolução íntima de pensamentos derivados de tais sensações progressivas. Por uma intuição sobre-humana, como aquelas que fundam religiões, porém a que não assenta o título de religiosa, por isso que repugna toda a religião e toda a metafísica, este homem descreveu [??] o mundo sem pensar nele, e criou um conceito do universo que não contém uma interpretação. [?]
Pensei, quando primeiro me foi entregada a empresa de publicar estes livros, em fazer um largo estudo crítico e excursivo sobre a obra de Caeiro e a sua natureza e natural destino. Porém não pude fazer estudo algum que me satisfizesse.
Pesa-me que a razão me compila a dizer estas nenhumas palavras (este pouco de palavras) ante a obra do meu Mestre, de não poder escrever, de útil ou de necessário, mais que disse, com o coração, na Ode (...) do Livro I meu, com a qual choro o homem que foi para mim, como virá a ser para mais que muitos, o revelador da Realidade, ou, como ele mesmo disse, «o Argonauta das sensações verdadeiras» — o grande Libertador, que nos restituiu, cantando, ao nada luminoso que somos, que nos arrancou à morte e à vida, deixando-nos entre as simples coisas, que nada conhecem, em seu decurso, de viver nem de morrer; que nos livrou da esperança e da desesperança, para que nos não consolemos sem razão nem nos entristeçamos sem causa; convivas com ele, sem pensar, da necessidade objectiva do Universo.

Dou a obra, cuja edição me foi cometida, ao acaso fatal do mundo. Dou-a e digo:

Alegrai-vos, todos vós que chorais na maior das doenças da História!
O grande Pã renasceu!

Esta obra inteira é dedicada
por desejo do próprio autor
à memória de
Cesário Verde.

s.d.

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996.
 - 329.

Prefácio a Caeiro

Pessoa Revisitado

Ao clicares aqui vais encontrar vários textos de Eduardo Lourenço sobre Fernando Pessoa. Explora alguns links relacionados com a temática da heteronímia em Fernando Pessoa.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Texto Argumentativo

Quando usamos a argumentação?
No nosso quotidiano usamos constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses actos de comunicação tem um carácter informativo, não é menos verdade que um bom número deles tem um carácter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso, temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito frequentemente.
Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um acto de inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.

O que é argumentar?
Argumentar é, pois, expressar uma convicção, um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos objectivos.

Argumentar é o mesmo que persuadir?
Argumentar é persuadir racionalmente, mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside no facto de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.

O que é um texto argumentativo?
O texto argumentativo é, então, o que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como? Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados, sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos. E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados organizados - as premissas - que sustentam o ponto de vista e conduzem à conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.

Quando temos que construir um texto argumentativo?
Na vida escolar, na vida profissional, e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar textos argumentativos.
A dissertação, o comentário, a exposição escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma critica de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes, um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma construção argumentativa muito cuidada.

Como se constrói um texto argumentativo?

I - Estrutura do texto / Progressão temática
1. Introdução - Parágrafo inicial no qual se apresenta a proposição (tese, opinião, declaração). Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou provas.
2. Desenvolvimento - Análise/explicitação da proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da proposição: factos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
3. Conclusão - Parágrafo final, no qual se conclui com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.

II - Escolha e ordenação dos argumentos
Para uma correcta construção argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes, apresentados de forma lógica e articulada. Assim deve-se:
        . encontrar os argumentos adequados;
        . recorrer, sempre que possível e desejável, à exemplificação, à citação, à analogia, às relações causa-efeito;
        . organizar os argumentos por ordem crescente de importância, do menos para o mais importante.

III - Adequação do texto ao objectivo e ao destinatário
A construção de um texto argumentativo deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina (para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
        . usar um registo adequado à situação e ao destinatário;
        . utilizar referências de conteúdo que o destinatário possui, de forma a que este o possa interpretar correctamente.

IV - Articulação e progressão do discurso
O texto deve apresentar-se como um todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo gradualmente. Estas características são conseguidas através da correcta utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:
        . correcta estruturação e ordenação das frases;
        . uso correcto dos conectores do discurso;
        . respeito pelas regras de concordância;
       . uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do nome;
       . utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinónimos, antónimos, hiperónimos e hipónimos.
A progressão e articulação do texto é conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Contrato de Leitura

Neste documento, constam todos os pontos que devem ser visados no contrato de leitura do 12º ano. Não se esqueçam de escrever com clareza, objectividade e correcção.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Compreensão Escrita

    Após o estudo de Fernando Pessoa ortónimo, testa os teus conhecimentos, acedendo e resolvendo esta fichas de aplicação de conhecimentos (uma das fichas é de verdadeiro/falso e a outra é de escolha múltipla).

   Nota: Para confrontares as tuas respostas acede às propostas de correcção (verdadeiro/falso e escolha mútipla).

Modernismo

1. Movimento Orpheu (Primeiro Modernismo)

Fernando Pessoa, educado na África do Sul sob influência da cultura inglesa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, que beberam em Paris as últimas novidades literárias e plásticas do Futurismo e de outras correntes modernas, por alturas da Primeira Grande Guerra (1914 - 1918), lançaram em Portugal o movimento modernista. António Botto e Luís de Montalvor são também nomes de vulto do primeiro Modernismo.
O grande motor de arranque do movimento foi a revista Orpheu, de que saíram dois números apenas (1915). Outras revistas se lhe seguiram, divulgadoras da mesma mensagem artística: Centauro (1 número), Portugal Futurista (1 número), Contemporânea (13 números - 1922-33) e Athena (5 números - 1924-25).
Os homens deste movimento modernista escandalizaram e assustaram os intelectuais e a sociedade "bem pensante" da época, tal a sua inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evolucionavam do sentir sebastianista mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia.
O que se pretendia era escandalizar. Os dois números do Orpheu surgiram mesmo "para irritar o burguês, para escandalizar, e alcançaram o fim proposto, tornaram-se alvo das troças dos jornais". Era assim que se procedia à maior reviravolta da literatura portuguesa.
Pessoa e os outros sentiam-se entediados pelos seus contemporâneos. O repúdio do espírito da Renascença Portuguesa, em que pontificava Teixeira de Pascoaes, foi o primeiro efeito desse tédio.
"Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas".
As tendências do primeiro Orpheu evolucionaram do Decadentismo-Simbolismo até ao Modernismo sensacionista de Álvaro de Campos.
O Futurismo e o Sensacionismo devem-se, em Portugal, aos homens mais influentes do movimento Orpheu: Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro.
O Futurismo, lançado na Europa sobretudo pelo poeta italiano Marinetti, é representado em Portugal pelos seguintes textos e autores: "Ode Triunfal" (1914) e "Ultimatum" (1917) de Álvaro de Campos; "Manucure" e "Apoteose" (1915) de Sá-Carneiro; "A Cena do Ódio" (1915), "Manifesto Anti-Dantas" (1916) e "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc. XX" (1917) de Almada Negreiros.
Ao mesmo tempo que se mostravam demolidores dos sistemas ideológicos tradicionais, estes homens impunham também um conceito novo de arte, substituindo o conceito de Belo (imitação harmoniosa da Natureza), herdado da velha "estética aristotélica". Queriam uma estética que espelhasse o mundo progressivo do futuro, uma estética dinâmica e agressiva.
Daí a defesa de uma autêntica liberdade da escrita, com recurso ao verso livre e aos atropelos morfossintácticos, às metáforas e imagens arrojadas, um estilo que destrua o EU, isto é, toda a psicologia, na literatura, voltando-se para o mundo da técnica, o estilo da força física, do mecanismo e da própria violência. "Queremos na literatura a vida do motor".
O Primeiro Modernismo apresenta-se primeiramente como um movimento artístico post-simbolista. Fernando Pessoa e Luís de Montalvor representam ainda, no princípio, um Simbolismo intelectualizado que contrasta com o Futurismo de Almada Negreiros, cultor de um certo primitivismo ingénuo, revelado, por exemplo, no seu romance Nome de Guerra.

 

2. Movimento Presença (Segundo Modernismo)

A revista Presença, nascida em Coimbra em 1927, lança o movimento do segundo Modernismo. Muitas vezes se insistiu no aspecto contestador do movimento Presença em relação ao movimento Orpheu, mas a verdade é que todos os críticos aceitam hoje que a Presença é que mais contribuiu para a divulgação e para o enaltecimento do primeiro Modernismo, embora sendo também certo que os autores da Presença revelavam esbatimento quanto aos exageros chocantes dos homens de Orpheu.
A revista Presença foi precedida em Coimbra pelas revistas Bizâncio (1923), Triptíco (1924), em que colaborava já aquele que viria a ser o principal fundador e redactor da Presença, o grande poeta José Régio. Colaboraram com este Gaspar Simões, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, etc.
A Presença, sobretudo pela voz de José Régio, insistia na necessidade de uma "literatura viva", baseada na imaginação psicológica, e denotando influências de Dostoievsky, da filosofia bergsoniana e da psicanálise de Freud. Daí o falar-se muito do Psicologismo do segundo Modernismo. O que se exigia do escritor era "uma sinceridade vinda da região mais profunda, inocente e virgem do subconsciente". E nisto eram continuadores do primeiro Modernismo.
De notar que os homens da Presença se distanciaram sempre do espírito das literaturas de explícita intervenção político-social, como o Neo-Realismo.
Algumas Características do Modernismo:
  • esquecimento do passado e o propósito de construir e criar o futuro;
  • o desprezo por tudo o que é clássico, tradicional e estático (museus, academias, servilismo aos mestres, etc.);
  • repúdio de sentimentalismo pelo ingresso frenético na vida activa através da exaltação do homem de acção e simultaneamente através do repúdio do homem contemplativo;
  • culto da liberdade, da veracidade, da energia, da força física, da máquina, da violência, do perigo;
  • culto da originalidade através de uma busca incessante de expressividade máxima;
  • novo conceito de arte: deve ser a força, o dinamismo, o domínio dos outros;
  • o universalismo.

O Modernismo e os –ismos da Vanguarda

*      Modernismo – movimento estilístico em que a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada, desencadeado pela geração de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros (Orpheu). Caracteriza-se por uma nova visão da vida, que se traduz, na literatura, por uma diferente concepção da linguagem e por uma diferente abordagem dos problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar, num mundo em crise.

*       Decadentismo – corrente literária que exprime o cansaço, o tédio, a busca de sensações novas. Apresenta estreitas relações com o Simbolismo.

*  Paulismo – “palis” é a primeira palavra de “Impressões do Crepúsculo” e a que sugere a atitude estética chamada paulismo. O significado de “paul” liga-se à água estagnada, aos pântanos, onde se misturam e confundem imensas matérias e sugestões. A estagnação remete para a agonia da água, paralisada e impedida de seguir o seu curso.

*       Interseccionismo – caracteriza-se pelo entrecruzamento de planos que se cortam: intersecção de percepções ou sensações.

*       Futurismo – corrente literária que se propõe cortar com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna. Aqui, o vocabulário onomatopaico pretende exaltar a modernidade.

*       Sensacionismo – corrente literária que considera a sensação como base de toda a arte. Segundo Fernando Pessoa, são três os princípios do Sensacionismo:
*       Todo o objecto é uma sensação nossa.
*       Toda a arte é uma conversão duma sensação em objecto.
*       Toda a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação.
 

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Leitura

Ler +
No âmbito dos livros e da leitura, o Plano Nacional de Leitura recomenda uma vasta lista de livros para uma leitura autónoma que podes consultar aqui.

Boas leituras.

domingo, 1 de novembro de 2009

Modernismo


Modernismo em Portugal

            No início do século XX, havia um sentimento geral de que não era mais possível renovar a arte tradicional. A superficialidade convivia com a crença de que a evolução tudo comandava e pouco cabia ao homem nesse processo.
No entanto, um movimento forte e amplo - o Modernismo - viria dar fim a este marasmo e implantar o inconformismo.
O Modernismo, não foi apenas produto de uma evolução estética: ele decorreu de todo um estado de espírito formado pela cultura da época e que repercutiria em todas as artes, integrando literatura, pintura, música arquitectura, cinema, etc. A primeira Guerra Mundial foi o grande divisor das águas...
Nesse contexto surgiram as vanguardas europeias, que antecederam e originaram o Modernismo literário. Vanguarda provem do francês e significa extremidade dianteira dos exércitos em luta. E a literatura de vanguarda foi realmente combativa, polémica, desbravadora e irreverente. Os vanguardistas da época valiam-se do deboche, da ironia e da luta verbal com o objectivo de substituir a arte tradicionalista pela arte moderna. 
As principais vanguardas europeias foram: 
*      Cubismo;
*      Futurismo;
*      Dadaísmo;
*      Surrealismo. 
 
Todas essas vanguardas tiveram um carácter agressivo, experimental, demolidor e inovador. Combatiam o racionalismo e o objectivismo das teorias científicas do Realismo/Naturalismo/Parnasianismo e pregavam o irracionalismo. Com isso, procuravam uma compressão mais subjectiva do homem, voltada mais para seu interior que para seu exterior.
 
§Características do Modernismo:
§atitude irreverente em relação aos padrões estabelecidos;
§reacção contra o passado, o clássico e o estático;
§temática mais particular, individual e não tanto universal e genérica;
§preferência pelo dinamismo e velocidade vitais;
§busca do imprevisível e insólito;
§abstenção do sentimentalismo fácil e falso;
§comunicação directa das ideias: linguagem quotidiana.
§esforço de originalidade e autenticidade;
§interesse pela vida interior (estados de alma, espírito..)
§aparente hermetismo, expressão indirecta pela sugestão e associação verbal em vez de absoluta clareza.
§valorização do prosaico e bom humor;
§liberdade formal: verso livre, ritmo livre, sem rima, sem estrofação preestabelecida. 
 
§As três grandes gerações de autores modernistas:
*            1ª geração - o Orfismo : Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e outros;
*            2ª geração - o Presencismo: José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e outros;
*            3ª geração - o Neo-Realismo: Alves Redol, Ferreira de Castro, Jorge de Sena e outros.
 
 
§Limites cronológicos do Modernismo:
§Perspectiva alargada: desde finais do Século XIX até finais dos anos 50;
§Perspectiva mais restrita: desde vésperas da Primeira Guerra Mundial até à Segunda Guerra Mundial.
 
 
§Temas dominantes do Modernismo:
§A euforia do moderno que rapidamente desliza para o tédio existencial;
§A dissolução do sujeito que conduz, muitas vezes, ao suicídio;
§O esforço patético do autoconhecimento;
§A crise aguda do sujeito poético projectada:
·               na máscara;
·               no retrato;
·               no espelho;
·               na procura labiríntica do outro em si mesmo (fragmentação do eu)
 
 
§Em suma:
*           Nova concepção de Arte: a Literatura entrelaça-se com a Pintura e Escultura, pois são vistas como formas de arte complementares e não distintas;
*           Há uma viragem do sujeito poético para o seu interior, exprimindo a síntese das suas experiências e sentimentos, mesmo que pouco nobres ou ortodoxas; o Homem surge como reflexo de um mundo complexo, difícil, acelerado, pleno de diversidades;
*           Leva a cabo uma espécie de reinvenção da linguagem, ao nível da forma, da expressão, introduzindo no domínio do literário uma pretensa desconstrução sintáctica e as linguagens jornalística e publicitária; surgem, assim, frases aparentemente caóticas, palavras que “saltam” dos versos, dada a sua força significativa e sonora, um estilo arrojado e agressivo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Coesão Textual

Coesão textual

Para Mira Mateus (1983), “todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como instrumentos de coesão”.

Esses instrumentos organizam-se da seguinte forma:

Coesão Lexical

Coesão lexical

Corresponde a uma relação entre termos / palavras que remetem para o mesmo referente (co-referencialidade), num mesmo enunciado

Esta coesão resulta do recurso aos seguintes dos processos:

repetição: “Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas.”

sinonímia: O rapaz sempre que se dirigia ao prior corava. O padre questionava-o até ao pormenor.

antonímia: O João jurava à namorada que dizia a verdade, mas ela sabia que ele mentia.

hiponímia / hiperonímia: Os universitários reuniram-se uma vez mais para protestar contra o aumento das propinas. Recorde-se que as acções dos estudantes são cada vez mais frequentes no nosso país.

holonímia / meronímia: O João tinha um carro espectacular! Caixa automática, estofos em pele, tecto de abrir, jantes de liga leve, ar condicionado automático, caixa de CD!

RECORDANDO:

• Os hiperónimos são palavras que apresentam sentido mais geral em relação a outras que apresentam sentido mais restrito – os hipónimos;

• Entre duas palavras pode estabelecer-se uma relação de significado, em que uma remete para um todo – a palavra holónima – e a outra é considerada parte daquela – a palavra merónima.

Coerência Textual

Coerência textual

Para além dos processos de coerência textual estudados nas aulas anteriores, podemos referir outros cincos tipos de coerência, que são igualmente importantes.

Estes tipos de coerência são os seguintes:
coerência semântica: refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam ou quando são contraditórios;

coerência sintáctica: refere-se aos meios sintácticos usados para expressar a coerência semântica: conectores, pronomes, etc.;

coerência estilística: este tipo de coerência tem a ver com a mistura de registos linguísticos, sem que daí resulte, necessariamente, qualquer tipo de incoerência;

coerência pragmática: refere-se ao texto visto como uma sequência de actos de fala. Para haver coerência nesta sequência, é preciso que os actos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando isso não acontece, geram-se sequências incoerentes.

EXERCÍCIOS
COERÊNCIA SEMÂNTICA
1. Explique a incoerência das frases que se seguem:
a) A discussão reporta-se ao problema da clonagem.
b) A audiência foi pouco elevada no estádio da Luz.
c) Entramos num novo círculo de mudanças.
d) Um tráfico imenso pediu o autocarro de avançar.

COERÊNCIA SINTÁCTICA
1. Aponte a incoerência e corrige-a.
a) Nada o desarma; quer esteja doente, sempre aparece.
b) O pobre homem vinha numa perseguição encadeada, mas desejoso de agarrar o pássaro e o comer.
c) Estava renitente e casou.

COERÊNCIA ESTILÍSTICA
1. Compara, em termos de coerência, o excerto de Namora com o exemplo que o segue.
a) – Atão, ao menos, deixe-me ir ali dar de corpo.
O tendeiro sondou-o, desconfiado, através do postigo das pálpebras.
Fernando Namora, Casa da Malta

b) – Então, ao menos, deixa-me ir à casa de banho. Preciso satisfazer as minhas necessidades fisiológicas.
O taberneiro mirou o gajo de alto a baixo, desconfiado, não quisesse ele pôr-se na alheta.


COERÊNCIA PRAGMÁTICA
1. Explica a incoerência presente nas sequências que se seguem.
a) À porta de igreja, entre dois cegos:
- Conheces esta senhora que te deu a esmola?
- Só de vista.

b) – Sabe, querida amiga, estive dois anos em coma…
- Que sorte! – exclama a outra. – Só o meu marido é que não me leva a parte nenhuma!...

Memorial do Convento - Expressão Oral

Para desenvolver a expressão oral, propomos as seguintes actividades, que lhe possibilitará aprofundar os seus conhecimentos sobre a obra de Saramago.

Memorial do Convento - Expressão Escrita

Desenvolve a tua visão crítica sobre alguns aspectos explorados na obra Memorial do Convento, aceitando o seguinte desafio.

Sites de interesse



Apresentamos alguns links de interesse que poderão consultar sobre a obra em estudo:

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Felizmente Há Luar - Compreensão Escrita

Depois de visionar a apresentação relativa à contextualização da obra Felizmente Há Luar, resolva as fichas de compreensão escrita sobre as personagens, o tempo e o espaço na referida obra.

Felizmente Há Luar - Compreensão Escrita - Verificação de Leitura

Após a leitura atenta da obra, verifique os seus conhecimentos.


Fernando Pessoa - Expressão Escrita

1. Escolhe apenas um tema A ou B.

A - “(…) na suposição de que ser poeta é ter acesso a um novo “estado de graça”, Fernando Pessoa tenta recriar-se, artificialmente, como “criança” e, nela, continuar a infância perdida. Mas a consciência do real atrapalha-lhe o sonho.”
Alfredo Antunes, Saudade e profetismo em Fernando Pessoa. Publicações da Faculdade de Filosofia

Depois de reflectir sobre o texto transcrito, elabora um texto expositivo-argumentativo, com cerca de duzentas palavras, fundamentando as tuas afirmações com base em leituras feitas/ poemas analisados.


B -
“O que em mim sente ‘sta pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!”
Fernando Pessoa
Partindo da leitura do excerto transcrito e fazendo apelo à tua experiência de leitura, elabora um texto expositivo-argumentativo, com cerca de duzentas palavras, sobre o seguinte tema:
A tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sentir/pensar em Fernando Pessoa ortónimo.

Caso tenha dúvida, consulte a estrutura do texto argumentativo.

Nota: No final desta actividade, certifique-se que o seu texto referencia os seguintes tópicos.

"Mestre, são plácidas" - Compreensão Escrita

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos.
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos!,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza ...

A beira-rio,
A beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O Tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.


Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvirn Ed., 2000

1. incautos:. sem cautelas, sem preocupações.
2. quasi: forma arcaizante de quase.
3. deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre: referência ao deus grego Cronos, cujo nome significa em português Tempo; este deus devorava os filhos ao nascer.

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas ao questionário.
1. Caracterize a relação entre "nós" e o "tempo ".

2. Explicite um dos efeitos de sentido produzidos pelas formas verbais "saibamos" (vv. 10 e 28), "Colhamos" (v. 37) e "Molhemos" (v. 38).

3. Interprete o valor simbólico das referências às "flores" (vv. 6 e 37), aos "Girassóis" (v. 43), aos "rios" (v. 40).

4. Refira a importância, no texto, do vocabulário relativo à ideia de calma.

5. Sintetize a filosofia de vida expressa no poema.

Nota: Caso necessite, confronte as suas respostas com a seguinte proposta.

"Que Noite Serena" e "Ah, a frescura na face de não cumprir um dever" - Compreensão Escrita


Leia atentamente os seguintes poemas e apresente, de forma bem estruturada as suas respostas aos questionários abaixo indicados.
I
Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!
Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge…
O terceiro andar das tias, o sossego de outrora,
Sossego de várias espécies,
A infância sem futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
E tudo bom e a horas,
De um bem e de um a horas próprio, hoje morto.
Meu Deus, que fiz eu da vida?
Que noite serena, etc.
Quem é que cantava isso?
Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
E dói, dói, dói…
Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.
Álvaro de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993

1. Neste poema, o sujeito poético evoca o passado. Refira os traços caracterizadores desse passado.

2. Os quatro primeiros versos são a citação de uma cantiga, parcialmente retomada no verso 13. Explique a função de cada uma destas citações.

3. Explicite o sentido da oposição adverbial “aqui” (v. 5) e “lá” (v. 15).

4. Comente o efeito expressivo da repetição “E dói, dói, dói…” (v. 17).

5. Analise os sentimentos do sujeito poético, relativamente ao presente.

II
Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora, Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Álvaro de Campos, Poesias, Lisboa, Ática, 1993

1. Indique as relações de sentido que se estabelecem entre os quatro primeiros versos.

2. Explique como se concretiza a atitude de deliberação do desleixo” (v. 5).

3. Explicite dois valores expressivos da antítese “vestida” / “nu” (vv. 7 e 8).

4. Caracterize os lugares representados pelos advérbios “lá” (v. 6) e “aqui” (v. 11).

5. Comente a importância dos dois últimos versos no contexto global do poema.

Caso precises de verificar as tuas respostas, consulta a seguinte proposta.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"O Guardador de Rebanhos" - Compreensão Escrita

Orientação de leitura do Poema I de Alberto Caeiro

1. Embora afirme nunca ter guardado rebanhos, o sujeito poético apresenta-se como “pastor”.
1.1. Explica, com base na primeira estrofe, o tipo de relação que este “pastor” estabelece com o ambiente que o rodeia.
1.2. Identifica, na mesma estrofe, dois recursos estilísticos que ilustram a intensidade da referida ligação.

2. A deambulação e o privilégio da sensação visual são dois aspectos que aproximam este heterónimo da poesia de Cesário Verde.
2.1. Identifica os versos que comprovam esta afirmação.

3. No verso 9, o sujeito poético confessa-se “triste”.
3.1. Encontra as causas que estão na origem dessa tristeza.
3.2. Interpreta o valor contextual da conjunção com que o verso se inicia.
3.3. Clarifica as explicações que o sujeito poético adianta para a identificação de “tristeza” com “sossego”.

4. Na terceira e quarta estrofes, o sujeito poético advoga que a recusa do acto de pensar é a via para alcançar a paz e a felicidade.
4.1. Demonstra a verdade desta afirmação.
4.2. Assina três recursos estilísticos que reforçam a tese defendida em 4..

5. Agrupar os vocábulos em campos lexicais pode ajudar a determinar o tema de um texto.
5.1. Faz o levantamento dos vocábulos do poema que pertencem aos campos lexicais de natureza e de pastor.
5.2. Explica de que forma se entrecruzam, no texto, os dois campos lexicais referidos.

Nota: Confronta as tuas respostas com a proposta de correcção.

"O Guardador de Rebanhos" - Alberto Caeiro

Ficha de Compreensão Oral

Testa os teus conhecimentos, depois de ouvires o poema "Pobre velha música" e visionares o documentário "Vida e Obra de Fernando Pessoa", acedendo e resolvendo a ficha de compreensão oral.


Nota: Para confrontares as tuas respostas acede à proposta de correcção.

Vida e Obra de Fernando Pessoa

"Pobre velha música" - Poema áudio

"Gato que brincas na rua" - Poema Integral

Gato que brincas na rua

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

"Ela canta, pobre ceifeira" - Poema Integral

Ela canta, pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,

Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida.
Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.

Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!

Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa, Cancioneiro

"Ela canta, pobre ceifeira" e "Gato que brincas na rua" - Compreensão Escrita- Correcção

Clica aqui para verificares as tuas respostas ao questionário.

"Ela canta, pobre ceifeira" e "Gato que brincas na rua" - Compreensão Escrita

Para comprenderes os poemas "Ela canta, pobre ceifeira" e "Gato que brincas na rua", resolve o seguinte questionário.

"Autopsicografia" - Compreensão Escrita

Podes aceder aqui à análise do poema "Autopsicografia"

"Autopsicografia" - Poema áudio